sábado, 29 de fevereiro de 2020

Acordei às 8 da manhã estranhando o fato do chuveiro estar ligado naquela hora. Era tarde pra ele, que costuma acordar às 6. A não ser que tivesse dormido mais, que a noite tivesse lhe distraído.
Lembrei que tinha ouvido vozes na noite passada, que o coração tinha gelado mas que eu consegui abrandar e escolher não ligar. Dormi bem, gostoso peguei no sono ao lado da Manu, enquanto assistia a um filme. Torci para que desse tudo certo, que o respeito acontecesse e a gente não ouvisse mais nada.

Uma noite de farsa pra disfarçar a minha filha o cansaço que sinto, que estava sentindo. Faz dois dias que não estou legal. Triste além do normal, mais dificil de ver saídas, parece que o cinza do céu decide por pintar minhas paisagens também. Estou cinza.

Um desespero constante faz com que se sentir em alerta seja algo normal. Até que uma hora vc está nisso sem que nada tenha de fato acontecido.
Não sei o que me doí. Mas sei que acordei fora de um prumo, acelerada, com um desespero, vontade de correr de tudo que sou, das cobranças que tenho de mim, da eterna mania de achar que existe uma fórmula certa e que o x da questão é encontrá-la, e aí, puff, tudo daria certo. Quero descobrir de onde vem esse desespero, pra tirar essa angústia e arrancar às unhas de dentro do meu peito.

Existe um peso, um todo que já não aguento. O problema de hoje é fruto do problema de ontem, vivendo a vida não de galho em galho, mas de sufoco em sufoco. Relembrar os dias e noites na república, sem idéia de como a vida se encaixaria, qual casa viveríamos, se daria certo o relacionamento com Gustavo, quais os impactos na Manu, aquela sensação constante de arrependimento por ter aberto minhas guardas e ter deixado tudo ficar contaminado pela presença dele.
De desejar do fundo do coração por ter feito escolhas diferentes, ter me mantido fiel a mim mesma. Sentindo que havia me traído e estava prestes a fazer mais uma besteira para disfarçar um pouco a besteira já feita. E tudo isso, a pequena no meio, flutuando na maré das minhas burradas.


Fechei os olhos e acreditei. Buscava o melhor pra focar, usei, fui utilitária pra conseguir honrar o que já tinha começado sem certeza alguma. Era uma sobrecarga emocional gigante, uma sensação que eu tinha que dar suporte e conta dele ser feliz, para assim poder estar feliz. As perguntas não respondidas, a ideia que tinha que dar certo porque se não desse, seria mais um fracasso pra conta.
Sabia que iria me ferrar, tentei ser forte e achar que daria conta. Mas o desiquilibrio era nítido, a falta de visão das coisas de forma parceira, eramos uma família, mas meus problemas eram meus problemas. O eterno problema de ser mãe e ter que dar conta de me sustentar sem fazer más escolhas pro resto da parada toda. De sair da dependência financeira o mais urgente que pudesse mas sem a mínima ideía de como realizar isso, só não deixe de dar conta de tudo sozinha. Só vai. Senão sua moral não tá com nada. Não adianta o quanto tentar justificar.


O mau humor diário por conta do trabalho, da vida, da saudade da casa dele, a cara de bosta com o passo firme e duro como se ninguém mais existisse. As palavras sempre pesadas, os xingos, o rancor.
Hoje ele diz que a culpa é minha, que eu sou tóxica e deixava ele em depressão. Até aquele papo de querer se matar tb era culpa da minha presença na vida dele.
Isso doeu. Jogou mesmo na lata do lixo toda sinceridade e esforço pra que a gente se entendesse. Nunca houve consideração. Há medo de se fuder e ficar pq não tem saída.


Pois bem, aqui estou. Acordando as 8hrs desesperada pelo rancor e raiva, medo e desespero de ser invadida, de ser supreendida por um gemido na minha orelha e da minha filha. Porque fui eu quem procurei isso.Ainda não tenho a mínima ideia de como, de quando fiz essa escolha... ou sim, no dia que aceitei que ele morasse conosco sem que tivesse ainda a mínima ideia de quem ele era além pro o que eu queria que ele fosse.









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