sábado, 20 de março de 2021

Março/2021 - 1 Ano de Pandemia

 Arrisco em dizer que até agora tinha conseguido segurar as pontas do cabeção. 

Fiz muita bosta em 2020 mas não tanto pelo impacto da pandemia nos meus pensamentos. Foi apenas eu tentando acertar depois de cagar, uma após a outra nos anos anteriores. 

Agora, que já não devo a alma pela mentira da estabilidade que eu vivia, deixo que caia em mim o peso de todas as toneladas do mundo dessa tão fatídica pandemia do Sec. XXI ( Que minha avó não me ouça e não me lembre como é ouvir diariamente torpedos e serenes avisando sobre bombardeios na cidade)

Está desesperador. Angústia, medo, terror já não são mais palavras que descrevem. Não sei se é melhor ou pior a sensação de assistir essa catástrofe dos camarotes, da sacada do pequeno apartamento da minha mãe, pois as vezes a sensação é de proteção, mas na maioria das vezes é de ilusão. Não estou na rua, não saio daqui deste pequeno quadrado de 60m já faz umas duas semanas. A última saída pela porta foi quinta feira passada para levar o lixo. 

Estou com medo. Muito medo. Não vou mais a padaria, nem ao mercado, nem para minhas caminhadas admirar as flores de meu trajeto favorito. Ah, agora lembrei, sai um dia, terça feira passada, e foi a pior sensação possível. Tive pavor pois não sei onde por as informações que tenho frente ao comportamento tão insano que as pessoas estão se colocando. Deveria ser o terceiro dia em que todo sistema de saúde da cidade já havia colapsado e o cenário que vi nas ruas foram as pessoas circulando, comprando, burlando as regras de fechamento impostas pelo governador, jogando dominó na praça. Cerca de uns 20 senhores, jogando dominó na praça. Todos juntos, animados, vivos. Mas eu não os via vivos. Aquilo era como apenas um flashback, e a realidade eram homens arfando sem socorro, sem chance, empilhando enfermarias e hospitais. Eu os via mortos, Eu os via como a ciência havia que pelo menos uma grande parte deles serão daqui duas semanas. 

Lembrei desta saída pq falei das flores. Lembrei que as trombetas de anjo floresceram novamente. Fiquei curiosa que tenham um ciclo tão rápido e depois agradeci pelo aroma, beleza e força que me passam. Sinto falta delas, mas tenho medo de sair. Talvez seja medo de esquecer tudo que está acontecendo e todo pior que ainda virá e ter que acordar para este pesadelo novamente. 


Medo de deixar minha filha órfã. Medo de ser estatística. Medo de adoecer e mesmo que precisasse de pouco, encontrar o nada para me socorrer. Se a lição dos Deuses era nos mostrar que a ganancia destruirá a gente, eles foram muito bem sucedidos.


Fizemos tudo errado. A corrida não pôde parar, o jogo, disseram eles, precisava continuar. O que estamos criando é apenas uma situação pior que a outra. A vida, agora está mais do que exemplificado, é mero detalhe. Se pudéssemos continuar girando a roda como zumbis, ficaria até mais fácil de entender.

Hoje penso que o ano passado não foi nada perto do que irá acontecer. Foi talvez um preludio, um amaciamento, foi uma anestesia coletiva para o que está verdadeiramente por vir.

Sabe aquele vírus que nos assustava há um anos atrás? Demos todas as oportunidades e assim como um belíssimo sobrevivente de RNA, ele fez o que tinha que fazer: mutações. 

Hoje o vírus é mais transmissível, mais contagiante, atinge tanto pessoas idosas quanto jovens saudáveis, fica no corpo por mais tempo. E o pior talvez seja que na situação que nosso País se encontra isso seja informações excessivas ou irrelevantes, pois se você precisar de hospital para tratar qualquer sintoma que seja, não terá vagas. 

O alucinado que governa o Brasil fez e faz tudo que pode para matar mais e mais pessoas. Impede que os estados tente conter o caos, diz para as pessoas viverem como se nada estivesse acontecendo, não compra vacinas e nem os remédios necessários para que aqueles que tentam sobreviver possam ser intubados. 

Intubados.