quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

 Vem nimim vida. 

Nada de nada em nada que tiraram de mim

Liberada da quimioterapia


Sensação de levantar de um sono profundo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

À caminho do hospital


Hoje é o dia que farei a cirurgia que vai mudar meu corpo pra sempre. 

Algo que eu nunca tinha pensado, e que pra ser sincera sinto que não pensei o suficiente tb. 

Retirar meu útero e o ovário que ficou, encerrar meu processo hormonal, alterar o fluxo do meu corpo, do meu orgânico, da minha forma de conhecer o meu sentir até agora. 

Esses últimos dias até estava lembrando, acho que em alguns momentos a minha vida eu devo ter sentido pena de mulheres que tiveram historias parecidas com essa. E foi ai que me liguei que ainda é uma historia de outra pessoa, foi como uma bigorna caindo em mim quando realizei que hoje eu sou a história daquelas mulheres por quem senti pena. 

E lá vou eu, Morrendo de medo de tudo. Com raiva e medo pra caralho. 

Agora terei que tomar remédios todos os dias. Precisarei deles para ter o meu equilíbrio. 


Não terei meu fluxo, não terei meu momento do mês que perceberei estar mais safada, mais atenta, mais reflexiva, mais impulsiva, mais interna e mais externa. 
Como eu farei pra falar com meu corpo agora?
Como eu farei pra ouvir o meu corpo, agora?

A real que estou muito triste e com muito medo. 


E o lado bom?

O lado bom vai ser se não tiver nascido nada nos órgãos e nos linfonodos e então, confirmar isso. Ter a chance de evitar a quimioterapia Seguir com o pensamento mais tranquilo de que pelo menos o corpo não terá mais que refazer células uterinas e ovarianas e assim mitigar o risco de propensão que já tenho de replicar células cancerígenas. 

A real é essa. Isso é um tratamento de câncer e a única coisa que me resta é compreender e aceitar. 

Minha deusa, jovem, mãe, anciã.
Segurem minha mão, estejam comigo, estejam em mim. 
 





sábado, 25 de dezembro de 2021

Natal

 Faz um pouco mais de um mês que fui diagnosticada com cancer de ovario. 

Retiraram o tumor inteiro e estou no processo de cirurgia e investigações para saber se está espalhado em algum outro local do meu corpo ou se foi retirado tudo que havia para ser tirado. 

Não me aproximei mais de Deus, não tive impeto de fazer tudo certo, nem de aproveitar cada segundo. Estou longe e fugindo da minha filha. Me sinto com cheiro de morte.  

Tenho apenas uma raiva mto grande.

As pessoas ao meu redor  e não intimas não sabem, não quis contar. Estou me prevenindo dos comentarios e dos "mas tb" que as pessoas descuidadosamente soltam.

Uma amiga veio com o papo "ah, mas cancer é mágoa". Vai pra porra, minha amiga. E não diga mais isso a uma pessoa que está com cancer. Respeito que seja sua forma de ver, sua opinião, mas numa situação assim, guarde ela pra vc. 

Enquanto isso sou tomada por medos, medo de desmoronar como um castelo de areia atacado pela maré alta. 

Medo da vesicula com calculo estourar e atrapalhar o cronograma dos médicos, medo da tomografia esquisita, medo da cirurgia de risco que terei que fazer, medo de não conseguir mais entender os sinais do meu corpo. 

Medo de não me importar mais com nada disso





sábado, 20 de março de 2021

Março/2021 - 1 Ano de Pandemia

 Arrisco em dizer que até agora tinha conseguido segurar as pontas do cabeção. 

Fiz muita bosta em 2020 mas não tanto pelo impacto da pandemia nos meus pensamentos. Foi apenas eu tentando acertar depois de cagar, uma após a outra nos anos anteriores. 

Agora, que já não devo a alma pela mentira da estabilidade que eu vivia, deixo que caia em mim o peso de todas as toneladas do mundo dessa tão fatídica pandemia do Sec. XXI ( Que minha avó não me ouça e não me lembre como é ouvir diariamente torpedos e serenes avisando sobre bombardeios na cidade)

Está desesperador. Angústia, medo, terror já não são mais palavras que descrevem. Não sei se é melhor ou pior a sensação de assistir essa catástrofe dos camarotes, da sacada do pequeno apartamento da minha mãe, pois as vezes a sensação é de proteção, mas na maioria das vezes é de ilusão. Não estou na rua, não saio daqui deste pequeno quadrado de 60m já faz umas duas semanas. A última saída pela porta foi quinta feira passada para levar o lixo. 

Estou com medo. Muito medo. Não vou mais a padaria, nem ao mercado, nem para minhas caminhadas admirar as flores de meu trajeto favorito. Ah, agora lembrei, sai um dia, terça feira passada, e foi a pior sensação possível. Tive pavor pois não sei onde por as informações que tenho frente ao comportamento tão insano que as pessoas estão se colocando. Deveria ser o terceiro dia em que todo sistema de saúde da cidade já havia colapsado e o cenário que vi nas ruas foram as pessoas circulando, comprando, burlando as regras de fechamento impostas pelo governador, jogando dominó na praça. Cerca de uns 20 senhores, jogando dominó na praça. Todos juntos, animados, vivos. Mas eu não os via vivos. Aquilo era como apenas um flashback, e a realidade eram homens arfando sem socorro, sem chance, empilhando enfermarias e hospitais. Eu os via mortos, Eu os via como a ciência havia que pelo menos uma grande parte deles serão daqui duas semanas. 

Lembrei desta saída pq falei das flores. Lembrei que as trombetas de anjo floresceram novamente. Fiquei curiosa que tenham um ciclo tão rápido e depois agradeci pelo aroma, beleza e força que me passam. Sinto falta delas, mas tenho medo de sair. Talvez seja medo de esquecer tudo que está acontecendo e todo pior que ainda virá e ter que acordar para este pesadelo novamente. 


Medo de deixar minha filha órfã. Medo de ser estatística. Medo de adoecer e mesmo que precisasse de pouco, encontrar o nada para me socorrer. Se a lição dos Deuses era nos mostrar que a ganancia destruirá a gente, eles foram muito bem sucedidos.


Fizemos tudo errado. A corrida não pôde parar, o jogo, disseram eles, precisava continuar. O que estamos criando é apenas uma situação pior que a outra. A vida, agora está mais do que exemplificado, é mero detalhe. Se pudéssemos continuar girando a roda como zumbis, ficaria até mais fácil de entender.

Hoje penso que o ano passado não foi nada perto do que irá acontecer. Foi talvez um preludio, um amaciamento, foi uma anestesia coletiva para o que está verdadeiramente por vir.

Sabe aquele vírus que nos assustava há um anos atrás? Demos todas as oportunidades e assim como um belíssimo sobrevivente de RNA, ele fez o que tinha que fazer: mutações. 

Hoje o vírus é mais transmissível, mais contagiante, atinge tanto pessoas idosas quanto jovens saudáveis, fica no corpo por mais tempo. E o pior talvez seja que na situação que nosso País se encontra isso seja informações excessivas ou irrelevantes, pois se você precisar de hospital para tratar qualquer sintoma que seja, não terá vagas. 

O alucinado que governa o Brasil fez e faz tudo que pode para matar mais e mais pessoas. Impede que os estados tente conter o caos, diz para as pessoas viverem como se nada estivesse acontecendo, não compra vacinas e nem os remédios necessários para que aqueles que tentam sobreviver possam ser intubados. 

Intubados. 


  


domingo, 7 de fevereiro de 2021

O dono dos meus devaneios

 Ele tem dominado minha mente.

Apenas a ilusão do todo que pode ser, do todo que quero ser para ser com você

Me esforço mto, brigo e crio metas mentais para impedir que divague sobre você

Mas não tem dado muito certo. E chega a estar cansativo. 

Penso no que você diria quando eu fizesse tal coisa, em como te contaria tal pensamento, em como seria a disposição dos móveis em nossa casa e como faria jantar esperando seu retorno do trabalho. 

Uma casa ampla, com muita madeira e iluminação amarelada e quente. 

Luminárias sutis, uma cozinha colorida, o quarto das meninas. Uma horta no quintal, e não me encha o saco, quero galinhas tb. 

Eu sou louca. Porque nada disso era pra estar na minha mente. Tudo que tenho é apenas sua atenção de segunda a quinta, as vezes sem a segunda.

Posso dizer de coração tranquilo que pelo menos faço uso da minha sinceridade e não simulo o que te digo. Sou isso mesmo, gato. Desse jeito, dessa loucura de quem tem a mente fértil e tá criando casa com seu avatar.


Sua vida é distante da minha. Sua vida deve ter tantas coisas quanto a minha para se ajeitar, por no lugar, reorganizar. 

E, diferente de mim, vc está com o coração quebrado ainda. E eu respeito isso e desejo imensamente que tenha todo tempo necessário para que o cole, da forma como tiver que ser. 

Meu coração já se quebrou,  e uma vez foi em tantos pedaços que foi preciso duas voltas da Terra ao redor do Sol para que se remendasse. Não serei eu a atropelar o que é tão necessário para que a gente se conheça de forma inteira. Na alegria e na dor. Na dor que também é a gente. E faz com que mesmo não querendo, busquemos o caminho necessário para recomeçar. 

Estou gostando demais de te ter como personagem dos meus devaneios. E com a consciência de que o que forjo são minhas intenções e que você não tem obrigação alguma quanto a elas. 

Eu não sei ainda qual é a casa do seu abraço, apesar de conhecer seu gosto e seu gozo. Eu quero muito conhecer seus sonhos, seus medos. 

Não sei qual o motivo deste encontro casual. Mas cada vez se enraíza mais o devaneio de te ter como parceiro de vida, de sonhos, de lutas e conquistas. 

E quero parar com isso, porque estou me acostumando com esse sonho recorrente. E não quero ter saudade daquilo que nunca tive, não quero a decepção daquilo que nunca que se anunciou, não quero o peso gelado em meu coração de constatar o que meu racional tão ágil sabe desde sempre, que tudo isso está apenas em minha mente. Que sou apenas uma pessoa a te distrair, uma conversa divertida, uma pessoa bagunçada e intensa que serve como entretenimento quando a rotina de segunda a quinta fica meio cinza tal como a cidade. 

Em um dos devaneios, nosso abraço dura. É quente, completo e deixa vontade de fechar os olhos e dormir. Morro de medo de que teu abraço seja casa. Porque ai será mais difícil ainda parar de devanear contigo em minha vida. De desejar. Assim como desejo seu corpo. 






sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 Hoje meu coração esteve triste. E não por menos o dia também chorou. Cinza, com uma nuvem pesada e que deixava ainda mais oprimida a angustia no peito, choveu como num melancólico dia de outono, em franco Janeiro.  

Ontem foi anunciado ao mundo a situação que Manaus passa pelo colapso do sistema de saúde e funerário por conta do Covid19. As pessoas estão morrendo, aos montes, aos pares, sem misericórdia, sem  a esperança que aja olhar que as veja, sem ar. E já não há novidade nesse cenário. 

Acabou o estoque de oxigênio, a necessidade ultrapassa a capacidade que a empresa que fornece tem de atender.  Não consegue-se mais internações nos hospitais, nem mesmo no chão. Não faz mais diferença estar lá ou não, pois o socorro não é mais um direito que os Amazonenses tenham. Tornou-se uma questão de sorte estar vivo por lá. 

Pessoas estão sendo mandadas de volta pra casa enquanto afogam em si mesmas, presas a infecção que o vírus causa no pulmão. O povo chora, a terra sangra, e também não da conta. Valas comunitárias para que de cabo de toda gente que morre por dia. Uma imagem perturbadora de um terreno grande de se perder de vista, cheio de retângulos com terra revirada e uma cruz azul mais gelada que a mórbida consciência de que tudo isso já torna-se o "novo normal". 

O desespero que deve estar alojado no coração de quem vê a quem ama agonizar e não se ter para onde levar em busca de ajuda. O desespero que deve estar encravado no peito de quem contabiliza as perdas de seus próximos, de sua gente, dia a dia, dezena a dezena. Quantas  redes que estão ficando vazias, sem ninguém para balear enquanto impregnam os lares de ausências e desalentos. 

Hoje meu coração sangrou. 

"Não é medo. É dor" 

Uma angustia que não consegue se dar um nome. O tão contemporâneo que isto é e mesmo assim essa aparência desesperadora de que apesar de horrível, a roda precisa continuar a rodar. 

Um mundo de realidades infinitas parece que impõe a nós abismos que nos distanciam de nossa própria humanidade.  Quando será que torna-se inadmissível demais, o suficiente para retirar-nos dessa busca automática de nossos confortos, psicológicos, físicos e egoístas? 





 



domingo, 5 de abril de 2020

05 de Abril de 2020 - Seguindo em quarentena - 23°dia

Somos a geração da Pandemia.

O vírus continua se espalhando e adoecendo as nações. As pessoas mais idosas são as mais vulneráveis mas temos bastante vítimas de idades menores e sem problemas de saúde anterior.

E hoje Manuzinha acordou com febre. Com a garganta ruim, dizendo que está tonta desde ontem, ficando ligeiramente com a boca branca. Pressão baixa? Será que está contaminada com o vírus?

Medo, que já diminuiu. Choro que já chorei. Ela está bem, disposta na medida que dá, conversando com a amiga pelo celular. E eu pensando na vida, no cigarro. tanta culpa há quanto tempo.

E vamos seguindo no isolamento social, na quarentena. Quem pode, quem compreende...
A perspectiva é que o mês de Abril seja o pico dos casos por aqui. Infelizmente são tantas as mentiras que nosso país está mergulhado que as pessoas ainda não acreditam que o pior acontecerá, há uma grande resistência popular sobre a veracidade da necessidade deste isolamento, quanto a gravidade que o vírus pode causar na saúde da população.

Da última vez que fui ao mercado vi pessoas buscando seguir numa normalidade irreal para quem compreende a dimensão global que é se estar num período de pandemia. E dessa vez, a revolta que costumo sentir pelas pessoas não quererem ver o que a lógica demonstra foi substituída por uma compaixão, ou mesmo um condolência, refletindo o quanto que esse pequenos atos agarrados no medo da mudança possam trazer problemas irreparáveis para eles, para nós, todos.
Sem esquecer que minha filha acordou com febre e garganta ruim.

 As pessoas agarram-se ao passado do ontem que não existe mais. Assim como a luz de uma estrela já morta nos brinda anos depois, corremos atrás dos últimos feixes de luz que permitam nos a ilusão de um presente que existe apenas pela negação da realidade, da mudança e morte do futuro que conhecíamos.

Qual será o cenário no dia 30 deste mesmo mês?