sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 Hoje meu coração esteve triste. E não por menos o dia também chorou. Cinza, com uma nuvem pesada e que deixava ainda mais oprimida a angustia no peito, choveu como num melancólico dia de outono, em franco Janeiro.  

Ontem foi anunciado ao mundo a situação que Manaus passa pelo colapso do sistema de saúde e funerário por conta do Covid19. As pessoas estão morrendo, aos montes, aos pares, sem misericórdia, sem  a esperança que aja olhar que as veja, sem ar. E já não há novidade nesse cenário. 

Acabou o estoque de oxigênio, a necessidade ultrapassa a capacidade que a empresa que fornece tem de atender.  Não consegue-se mais internações nos hospitais, nem mesmo no chão. Não faz mais diferença estar lá ou não, pois o socorro não é mais um direito que os Amazonenses tenham. Tornou-se uma questão de sorte estar vivo por lá. 

Pessoas estão sendo mandadas de volta pra casa enquanto afogam em si mesmas, presas a infecção que o vírus causa no pulmão. O povo chora, a terra sangra, e também não da conta. Valas comunitárias para que de cabo de toda gente que morre por dia. Uma imagem perturbadora de um terreno grande de se perder de vista, cheio de retângulos com terra revirada e uma cruz azul mais gelada que a mórbida consciência de que tudo isso já torna-se o "novo normal". 

O desespero que deve estar alojado no coração de quem vê a quem ama agonizar e não se ter para onde levar em busca de ajuda. O desespero que deve estar encravado no peito de quem contabiliza as perdas de seus próximos, de sua gente, dia a dia, dezena a dezena. Quantas  redes que estão ficando vazias, sem ninguém para balear enquanto impregnam os lares de ausências e desalentos. 

Hoje meu coração sangrou. 

"Não é medo. É dor" 

Uma angustia que não consegue se dar um nome. O tão contemporâneo que isto é e mesmo assim essa aparência desesperadora de que apesar de horrível, a roda precisa continuar a rodar. 

Um mundo de realidades infinitas parece que impõe a nós abismos que nos distanciam de nossa própria humanidade.  Quando será que torna-se inadmissível demais, o suficiente para retirar-nos dessa busca automática de nossos confortos, psicológicos, físicos e egoístas? 





 



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