terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

À caminho do hospital


Hoje é o dia que farei a cirurgia que vai mudar meu corpo pra sempre. 

Algo que eu nunca tinha pensado, e que pra ser sincera sinto que não pensei o suficiente tb. 

Retirar meu útero e o ovário que ficou, encerrar meu processo hormonal, alterar o fluxo do meu corpo, do meu orgânico, da minha forma de conhecer o meu sentir até agora. 

Esses últimos dias até estava lembrando, acho que em alguns momentos a minha vida eu devo ter sentido pena de mulheres que tiveram historias parecidas com essa. E foi ai que me liguei que ainda é uma historia de outra pessoa, foi como uma bigorna caindo em mim quando realizei que hoje eu sou a história daquelas mulheres por quem senti pena. 

E lá vou eu, Morrendo de medo de tudo. Com raiva e medo pra caralho. 

Agora terei que tomar remédios todos os dias. Precisarei deles para ter o meu equilíbrio. 


Não terei meu fluxo, não terei meu momento do mês que perceberei estar mais safada, mais atenta, mais reflexiva, mais impulsiva, mais interna e mais externa. 
Como eu farei pra falar com meu corpo agora?
Como eu farei pra ouvir o meu corpo, agora?

A real que estou muito triste e com muito medo. 


E o lado bom?

O lado bom vai ser se não tiver nascido nada nos órgãos e nos linfonodos e então, confirmar isso. Ter a chance de evitar a quimioterapia Seguir com o pensamento mais tranquilo de que pelo menos o corpo não terá mais que refazer células uterinas e ovarianas e assim mitigar o risco de propensão que já tenho de replicar células cancerígenas. 

A real é essa. Isso é um tratamento de câncer e a única coisa que me resta é compreender e aceitar. 

Minha deusa, jovem, mãe, anciã.
Segurem minha mão, estejam comigo, estejam em mim. 
 





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